quinta-feira, 8 de maio de 2008

"Sector atravessa maior crise de sempre na região" in Região de Cister 08/05/2008

Foi notícia a 08/05 a crise no sector da cerâmica. Não é novidade nos últimos tempos, muito se tem falado acerca desta questão que o sector atravessa.
A notícia destaca o encerramento de inúmeras empresas nas últimas décadas e a redução de trabalhadores nas empresas.
Como causas, aponta a falta de investimento na formação e design, desvalorização do dólar que afastou o mercado americano, inadequado uso dos Pedips, a subida dos preços dos combustíveis e matérias primas, a concorrência dos atractivos preços asiáticos... nada de surpreendente para quem conhece o sector.
Na generalidade concordo com todos os motivos apontados, mas acho que não nos podemos esconder atrás do evidente. Não são só estes os motivos isolados do sector da cerâmica. Há erros graves ao nível da administração destas empresas. Se fossem empresas bem estruturadas suportariam bem a estes abalos e não "sucumbiriam" no primeiro round.
Quantos sectores não atravessam os mesmos problemas, chega de considerar a Ásia o bode expiatório desta crise! Agrava, claro, e vários clientes têm começado a comprar cerâmica na China, mas não podemos viver eternamente na sombra deste argumento.
Não me parece que as empresas de moldes, vidro, maquinaria, etc, etc, fechassem as portas se a China invadisse os mercados com os seus produtos.
A concorrência abala sempre, ainda para mais quando a concorrência apresenta preços tão atractivos, possibilitados pela mão de obra barata. Mas a concorrência deveria ter em nós um efeito de despertar, ao invés de resignação.
O efeito de despertar tem de passar em "não produzir mais do mesmo", tem de passar por renovação de mentalidades, de eficência, de economicismo. Um basta em erros graves de administração destas empresas de "vão de escada"( expressão utilizada na notícia em epígrafe), onde qualquer um produz cacos sem qualquer método. Um basta numa éspecie de famílias, com um certo espírito senhorial que vivem a sombra dos rendimentos que a cerâmica lhes deu outrora e que não conseguem abandonar o nível de estatuto em que viviam. Um basta no formato de empresa familiar, onde o patrão manda, a mulher comanda, os filhos interferem...e outros auferem, sem nunca lá terem metido os pés. Sem provavelmente saberem sequer distinguir chacota de vidrado...
Um basta em empresas com departamentos para tudo e qualquer coisa, o necessário e o desnecessário. Se os anos 80 permitiam estes devaneios, hoje uma empresa com uma média de 50 a 60 trabalhadores, não suporta cargos financeiros, nem de direcção, nem comerciais a auferir quantias astronómicas.
Hoje, como disse, é tempo de despertar e não de resignação. Se outrora não havia quem abalasse, hoje há, e ou encontramos alternativas, e exploramos o ponto fraco dos nossos adversários, ou sucumbimos.
Para mim a solução passa pela inovação, pela renovação de mentalidades, pelos nichos de mercado", pela importância da venda de um bom serviço e imagem de eficiência, lado a lado com a qualidade do produto. O serviço é tão ou mais importante que o produto. E por último, pelo marketing e promoção do produto, que é onde realmente temos falhado.
Soluções conjuntas, ao exemplo da Mglass, sim, penso que poderia ser por aí também o caminho. Caminhar lado a lado e não de costas viradas uns contra os outros poderia ser uma mais valia, mas não vejo os nossos actuais empresários a prescindir do "individual" pelo colectivo. Talvez num patamar superir, numa outra nova geração, talvez com a minha geração isso venha a acontecer.
Atenção que dei o exemplo da Mglass apenas como a formato de associativismo e não como resultado, conforme todos sabemos o porquê do fracasso. Empregar um formato deste tipo sim, mas de forma supervisionada, honesta e íntegra.
Um basta nestas empresas de mentalidades pequenas que surgiram como cogumelos, só porque qualquer caco estava a dar dinheiro, com empresários medíocres, alguns a cair no despotismo como já conheci.
Defendo o encerramento de umas quantas mais empresas e sei que isso é um processo inevitável. Lamento a perda de postos de trabalho, mas é um mal necessário.
Que resistam as mais bem preparadas, estruturadas e de qualidade. Que sucumbam as piores, porque prejudicam mais que auxiliam. Dão má imagem do país, dos serviços e daquilo que conseguimos prestar.
Soube por um agente, em conversa informal, que existia uma fábrica que lhe enviava louça embalada em caixas de bananas Chiquita...é essa a imagem que queremos passar? Resistam as melhores, aquelas que possam progredir, que saibam explorar as fragilidades dos demais chineses e que ousem pensar em frente e não cruzar os braços. Resistam os bons e não nos empatem os fracos, que só dão má imagem do sector.
Que não seja mal interpretada, mas não consigo sentir pena de quem encerra unidades fabris, quando os próprios patrões descapitalizaram empresas e agora em épocas mais frágeis não investem um tostão da fortuna pessoal que conquistaram à custa da fábrica, e da qual não prescindem agora.
Que não seja mal interpretada novamente, sou Alcobacense, muito admiro a nossa fainça, mas empresas com vícios profundos de administração, devem mesmo encerrar, mesmo sendo empresas centenárias...
O "el dourado" terminou, toca a arregaçar as mangas e lutar. Posso pertencer a uma empresa da qual faça parte das que possam sucumbir, ou não. Pelo menos o nosso espírito e empenho está canalizado em fazer precisamente o caminho contrário. Não foi, nem tem sido um espírito de enriquecimento. Temos tido um espírito bastante economicista, de reformas sucessivas nesse sentido para fazer face às ameaças. Mas acho que o nosso sucesso vai ser permitido pela qualidade dos serviços, satisfação do cliente, aposta no design e ir de encontro aos gostos dos clientes, acima dos nossos possíveis interesses. Há mais um ou outro factor em que temos apostado, mas afinal de contas, a chave do nosso sucesso, é fruto de uma grande harmonia, espírito de equipa e muita humildade em aprender sempre mais. E talvez um ou outro segredo, mas se revelado, deixaria de o ser...
"Na vida, há que rasgar as mãos e procurar", li algures...um poema assim...